Michael Moore: “Trump conhece bem a equação estado-unidense: a ignorância leva ao medo e o medo ao ódio”

                                                                         
 Rob LeDonne / Resumen Latinoamericano   

O notável documentário de Michael Moore “Bowling for Columbine” alertou para os crescentes fenómenos de violência com armas de fogo no EUA. Passados 15 anos, a situação não só não melhorou como, segundo o realizador, essa violência tem uma das suas expressões políticas na eleição de Donald Trump.

No festival de cinema de Tribeca, o documentarista vencedor do Oscar falou sobre o presidente dos EUA e sobre a actualidade do seu filme ‘Bowling for Columbine’ , Assassinato em Columbine.

Há 15 anos, a estreia de Bowling for Columbine, o emblemático documentário de Michael Moore, converteu-se num êxito nacional que despertou polémica e recebeu elogios da crítica. Centrado no tiroteio do instituto de Columbine (1999) e na emergente ameaça da violência com armas de fogo nos EUA, o filme ganhou o Oscar para o melhor documentário.

Também serviu como profética advertência acerca da agitação política e social que em breve sobressaltaria a sociedade estado-unidense. Como disse o próprio Moore, se se “apresentasse este filme nesta mesma sexta-feira, desgraçadamente é provável que tivesse a mesma relevância”.

Durante uma conversa pública realizada juntamente com a projecção de ‘Bowling for Columbine’ (na semana passada cumpriu-se outro aniversario do tristemente célebre tiroteio) no festival de cinema de Tribeca, Moore e o pioneiro dos documentários D.A. Pennebaker manifestaram a sua desalentada perspectiva sobre o clima político na era de Donald Trump.

“Creio que passámos por 40 anos em que se baixou o nível intelectual do país”, disse Moore. “Desinvestimos nas nossas escolas e deixámos que ficassem num estado deplorável. As aulas de arte foram canceladas e, na actualidade, as aulas de educação cívica desapareceram de um terço das nossas escolas”, acrescentou.

Moore foi uma das poucas vozes que no decurso da campanha eleitoral nos EUA se atreveram a prever a presidência de Trump. Em Tribeca recordou a ocasião em que foi vaiado durante a gravação do programa da HBO Real Time with Bill Maher por dizer que o magnate republicano se converteria numa espécie de rei supremo. “Não o disse porque queria que isso viesse a suceder, estava a procurar advertir acerca de algo que podia acontecer”.

Michael Moore opinou também sobre essa ideia que caracteriza as zonas urbanas como bolhas isoladas. “Há uma bolha em Brooklyn, amigos, e é tóxica. Vi o que sucedia em outros lugares do país [após a vitória de Trump] e toda a gente estava em festa”.

Pennebaker também deu o seu ponto de vista sobre o presidente. “Trump é como alguém a quem acabas de dar um Ferrari, não sabe conduzir e, entretanto, põe-se a andar com o carro”. “Com o teu filho no lugar da frente”, completou Moore com ironia.

O documentário que mudou algumas coisas

Estreada um ano depois dos ataques de 11 de Setembro, Bowling for Columbine provocou grandes mudanças (apontada numa das sequências mais memoráveis, a cadeia de supermercados Kmart decidiu deixar de vender munições). Estava cheio de menções a líderes conservadores do passado, como George W. Bush, ou o já falecido símbolo da NRA (Associação Nacional da Espingarda), Charlton Heston, que se vê no decurso de uma irritada entrevista com Moore na sua casa de Los Angeles.

Mas, segundo Moore, nunca foi sua intenção que o documentário se convertesse num manifesto pelo controlo de armas. “Fizemos o filme para ter um molhar sobre nós mesmos, porque nos interrogávamos: ¿porque é que isto nos acontece?”, disse fazendo referência à epidemia de armas de que os EUA sofrem e que não se verifica em outras partes do mundo. “Somos boa gente, somos um bom país. ¿Porque se passam aqui estas coisas e não em outro lado? Todos nós temos o mesma número de cromossomas. Os canadianos não são melhores do que nós… embora não seja tão fácil dizer isso agora, ¿não é?”.

Moore diz com ironia que as razões por detrás da vitória de Trump e da falta de acção perante a violência com armas de fogo são duas faces do mesmo problema. “É a equação estado-unidense: baixa o nível intelectual da população; converte-os em ignorantes e estúpidos. A ignorância leva ao medo, e o medo, ao ódio. Trump conhecia muito bem essa parte da equação. E o ódio leva à violência”.

Moore opinou também sobre as últimas notícias referentes ao seu arqui-inimigo político Bill O’Reilly. No dia em que o apresentador da Fox News foi despedido pela cadeia de televisão recordou no Twitter uma divertida anedota. “O’Reilly passava numa limusina próximo de onde eu estava na rua. Vê-me e diz ao condutor que trave de imediato. Então sai disparado do automóvel a gritar comigo. Por acaso alguém registou o momento em fotografia”, contou Moore. “Mas eu ainda continuo aqui e ele não”.

Apesar de tudo, Moore compartilhou uma visão esperançosa do futuro. “Um grande número dos nossos compatriotas estado-unidenses começou a mexer-se. Os políticos já não são os únicos envolvidos activamente na política. Agora mesmo há muita gente que está informada e a participar”.

(Com o diario.info)

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